Caro leitor,
Fiquei sabendo que, lá na minha terra natal, a temperatura
desceu aos graus temíveis até abaixo de -35; você como tem lidado?
Dizem que faz um frio também em Portugal, mas no resto do mundo
lusófono, não passamos frio não. Aqui em Maputo já sentimos o
calor de +37. Agora, para variar, vou contar sobre o que é mesmo que
eu estou fazendo aqui em Moçambique!
Vida productiva e recriativa no nosso bairro |
...Quer dizer, além de passear a bater
papo à toa com a galera por aí – o que já devem ter percebido
das minhas cartas...
O caminho para a mais próxima parada de chapas, no fundo o Oceano Índico. |
Momentos de leitura
Muitas vezes eu só tomo uma água em
casa e no caminho compro um pãozinho e badias, tipos de pastel de
feijão. Ou então eu vou de chapa, o mini-autocarro local, até a
Avenida Eduardo Mundlane, em vez do campus universitário, para
comprar o jornal ”O País” na frente dum café, junto às
revistas semanais mais críticas, ”Zambeze” e ”Savana”, pelo
menos quando estão disponíveis no final da semana. Nas outras
revistas semanais independentes, como ”Canal de Moçambique”,
”Público” e ”Magazine Independent”, eu já dou uma lida
dentro do café, acompanhado por um café com leite, uma torrada e um
caderno de notas. O jornal ”Notícias” eu customo ler na
biblioteca do departamento, pois como o jornal mais financiado do país,
que está em favor do partido em poder, parece que é distribuido a
todas as instituiçoẽs públicas.
Mais atividades productivas às 7 de manhã |
Os chapas, que me levam até ao campus
universitário, ficam incompreensívelmente lotados. Eu já tinha que
me acostumar com a proximidade que, tem um lado simpático, mas
lamento ser resultado da grave carência no equipamento de
transportação pública que, nos últimos anos, sempre piorou.
Muitas vezes me encostando o peso num pé só, no colega transeunte
ao lado ou no colo dele, segurando a mão na parede ou no teto, eu
finalmente chego no campus, onde pego o caminho ao meu escritório no
Centro dos Estudos Africanos por entre as trabalhadoras rurais
cultivando seus terrenos.
As letras do Azagaia despertam
discussão pública
Foto: http://fobloga.blogspot.com |
Rico e pobre
No final da tarde, os chapas estão
lotados, então muitas vezes prefiro ir à pé, caso vou para casa. A
minha trilha vai para atrás de um bairro de elite, o cercado
Sommerchild, e um bairro de baixa renda, Polana Caniço, para até o
nosso bairro, populado tanto pelos jovens de classe média, quanto de
pequenos negociantes e pescadores tradicionais, à beira do Oceano
Ìndico.
À noite durante a semana, vou treinar
capoeira, ou leio revistas e jornais, ou tomo alguma cerveja com os
meus vizinhos em alguma das várias barracas do bairro. É mais
gostoso sentar ao ar livre antes de deitar, pois faz um calor dentro
da casa, enquanto as ruas de areia do nosso bairro refrescam-se por
uma brisa do mar. Aos sábados de manhã, vamos jogar futebol abaixo
da radiação solar quase sufocante, ou as vezes jogamos no domingo
ao final da tarde na praia exposta pela maré. Pelo menos aos
domingos à noite vou dançar à música ao vivo.
Apesar de não me ligar muito com a
política, parece que tanto fica meu pensamento na esquerda da
maneira finlandesa que, nunca me deu necessidade de ter uma empregada, ao contrário de muitos meus colegas e quase todos os
europeus aqui. Sou eu quem cozinha para mim, eu lavo a minha louça e
a minha roupa com o sabão local de ótima qualidade. Claro que as
vezes vou comer nos cafés e restaurantes, e de semana almoço na
faculdade.
Assim que são as minhas notícias principais. Eu por mim vou bem. Eu, e meus 200 milhões de leitores possíveis, também gostariamos de saber as suas notícias, ou seus comentários!
Saudações cordiais,
Janne
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