Suomeksi täältä
A inspiração para nomear este blog foi evocada pela metáfora de Benedict Anderson, as nações manifestam-se ao sonhar, e pelo romance do autor moçambicano Mia Couto, a “Terra Sonâmbula”. O sonho desta terra sonâmbula ainda continua às vezes mais agitado, nos debates, nas discussões, nas cerimonias, nas ruas, nas canções, portanto, incessante...

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Hitawonana!


Por falta do tempo e do financiamento o versão Portugues do este blog está temporalmente parado.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Parabens para Você!

Ontem, o 9 do Setembro 2012, Moçambique ganhou Marrocos com os golos 2 – 0 no estadio da Machava
Felicidade dos apoiantes dos Mambas depois o primeiro golo.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Semelhança com patos por razões diferentes



Antes de começar esta história originalmente publicado em Finlandês já em Novembro do 2011, quero avisar, aos meus leitores, que não é o propósito desta carta prejudicar os sueco-finlandeses, nem os moçambicanos, nem o senhor Presidente do Moçambique Armando Guebuza. Sem dúvida, isso já me faz perder vários leitores que preferem seguir outros tipos de polêmica.

Este pato não é Moçambicano mas de Fiskars.
À primeira vista, os sueco-finlandeses não parecem ter muito em comum com os moçambicanos. Justamente por isso, a minha querida esposa, pertencente a um desses grupos, proibiu-me definitivamente de escrever sobre esse tema. Trata-se de uma piada bem conhecida em Moçambique, baseada no rancor dos cidadãos sobre a propriedade abundante do Presidente Armando Guebuza e de outros políticos de alta posição, enquanto a maioria do povo continua na pobreza. 

Não sei se é bem verdade, mas falam que o presidente seria o homem mais rico no país. O Sr. Guebuza revelou, não há muitos anos atrás, à imprensa nacional a causa do seu sucesso econômico. Ele contou que ficou rico através da venda de patos. No início, o povo ficou pasmo, pois era muito difícil imaginar alguém se enriquecer vendendo uma mercadoria tão barata. Então algum esperto descobriu que é mesmo possível enriquecer-se desta maneira, caso venda um número suficiente de patos. Mas, seguindo os cálculos, para criar uma fortuna igual, seria necessário vender 23 milhões de patos. Na imprensa alternativa do Moçambique, que se compôs de uma rede de fofocas, fortalecida pela tecnologia moderna, a piada se espalhou como um incêndio. A picuinha está no fato de que, a população do país justamente de 23 milhões, resulta na compreensão imediata dos moçambicanos: “Os patos, somos nós”.


Patos por razões diferentes


E os sueco-finlandeses, a minoridade linguística na Finlândia? Quando eu relatei para um amigo moçambicano, que estes se referem a sua própria comunidade como uma lagoinha de patos, onde todos conhecem um a outro (e de onde, seguindo alguns, ninguém sai), ele soltou uma gargalhada: “Nós moçambicanos parecemos os sueco-finlandeses, neste sentido que ambos achamos semelhança com patos!” Depois pensei eu, que a parábola é usada por razões contrárias. Os sueco-finlandeses utilizam a metáfora da lagoinha de patos para exprimir o quanto são poucos, enquanto os moçambicanos divertem-se com a história de patos por serem muitos. Isso se parece mesmo superficial. Portanto, talvez traga luz ao assunto comparar esses dois grupos mais um pouco. 

Os sueco-finlandeses são uma minoridade linguística tradicional, a maior da Finlândia com cinco por cento da população, que podem se escolarizar em sua nativa língua sueca e são intitulados para tratamento de saúde neste idioma (porém, isso na prática, é variável). Na Finlândia, o sueco é chamado o segundo idioma nacional, é a língua oficial do país. Em Moçambique, algo parecido iria apresentar um grande desafio, sendo este país composto de diversos grupos étnicos e linguísticos, dos quais, nenhum sozinho alcança o tamanho igual do sueco-finlandes quando comparado com a população inteira. Os moçambicanos se escolarizam em português, que é língua materna para raros, e recebem serviços públicos de saúde na sua própria língua só quando a enfermeira por acaso é familiar a essa. Os sueco-finlandeses às vezes acham o seu idioma ameaçado na Finlândia. Os moçambicanos talvez não saibam nem sonhar em poder estudar, acessar serviços públicos ou ler jornais em sua língua nativa, das quais, as menores só são falados por algumas dezenas de milhares de moçambicanos.



Aprendizagem desde Moçambique


Não seria facil organizar a situação linguistica do Moçambique oficialmente com tão baixo custo, e seguindo a opinião da maioria, com tão bom funcionamento, que na Finlândia. Em vez disso nos, os finlandeses, pudéssemos apreender com o multilinguanismo extraoficial, no qual até as pessoas sem escolaridade costumam dominar vários idiomas  – a lingua materna, a lingua falada pelo pai, e não raro, também a lingua do grupo vizinho – e quem estudou na escola, o português. Os antigos combatantes e os moradores do norte do país falam, além das linguas vizinhas, o swahili, “o inglês da África de Leste”, falado por cem milhões de pessoas. O português é a sexta lingua maior do mundo, falado por mais de 200 milhões de pessoas. 

Em Moçambique, a vida pública funciona, pois quase nenhum dos grupos étnico-linguisticos é, enquanto à sua lingua, o lugarejo isolado como alguns municípios suecos da Finlândia: estes têm pouca interação com o resto do país e do mundo. Municípios bilingues, como Raasepori onde moro, no pior dos casos, parecem-se duas comunidades unilinguísticas na mesma área, cujos membros leem jornais diferentes e não conhecem uns aos outros. Nos deveriamos colocar as crianças finlandesas, como suas pares moçambicanos, numa imersão linguistica semelhante, poderia ser mesmo extra-oficial. Esse multilinguismo moçambicano contribui para a facilidade de qualquer novidade ou piada mais nova alcançar todos os moçambicanos – embora não fosse publicada em jornal nenhum.


quinta-feira, 26 de abril de 2012

Repreção da venda da rua seria idiotice

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Este texto é escrito para a imprensa de Moçambique e porque não tém a ortografia Brasileira como geralmente, agradeçoes para a experiençia e a educação da redação Portuguesa. Neste vez agradeço também meu caro collega Moçambicano pela ajuda com a ortografia adoptado aqui. 

No final do Fevereiro o Concelho Municipal da Cidade de Maputo (CMCM) declarou guerra contra as barracas de venda e os vendedores da rua. Uma guerra mesmo! O edil David Simango deu seu rosto à campanha, anunciando que, em particular, as barracas nas calçadas ou que de alguma outra maneira ”causam problemas” devem ser tiradas dentro de 48 horas, ou serão tranferidas através de intervenção policial. Para além dos jornalistas, que fizeram eco das palavras do edil e tomaram posição em espaços de opinião, muitas vezes criticando a postura do CMCM, não parece ter havido muitos outros comentários contra as palavras belicistas de Simango. Eu também ouvi muitas vezes que já não é actual esta guerra, mas não posso concordar porque o medo persiste nas ruas e parece resultar desta última intervenção polémica do CMCM.
Os vendedores de rua, comparáveis em termos numéricos a uma população de uma cidade finlandesa de médio porte – em jornais diferentes são estimados em cerca de 80 000 – começaram um contra-ataque oportuno, enquanto os jornalistas moçambicanos mediaram os pontos de vista dos "informais", inclusive nos jornais que apoiam o partido Frelimo, de que Simango é membro. O edil que, nas reuniões anteriores tinha atacado os vendores, tinha que acalmar-se e admitir ter perdido a sua guerra. As barracas e os vendores continuam servindo a sua clientela como sempre. 
Conversei com algumas pessoas nas ruas de Maputo, entre vendedores e clientes. Um vendedor ambulante de recargas de telemóvel criticou a errada estratégia de Simango avisando-o para concentrar-se em problemas reais, como por exemplo a cobertura de das aberturas nas ruas e estradas, também conhecidos em Maputo como”burracos do Simango”. Uma vendedora de frutas e amendoim perguntou o que o os vendedores irão fazerse lhes for vedada a venda nas ruas? Ficar em casa? Algumas vendedoras de frutas diziam-me que não posso tirar o fotografia, “porque a municipalidade nâo quer, eles nâo querem demonstrar a verdade , eles não querem que a gente no seu país veja fotografia de nosso negócio." Também um cliente da vendedora dos jornais disse que o mais provável é que Simango quisesse criar a ilusão, para os estrangeiros, de um Moçambique limpo, empurrando a miséria e a a pobreza para os bairros periféricos fazendo lembrar o caso do "muro da vergonha", construido no ano 2002, aquando da realização de cimeira da União africana em Maputo. Se isto é verdade, como seriam os investidores atraídos por aquela cruel e mentirosa imagem?
Se este tipo de guerra tivesse sido declarado no meu país, eu ia ficar ponderando, se o edil é mesmo estúpido ou simplesmente mau. Portanto, na minha condição de cidadão estrangeiro, que não sabe se isso seria adequado aqui, limito-me a reflectir sobre os motivos possíveis. Foi, talvez, um método do edil para preparar a imposição de novos impostos para os vendedores, ditos informais, mas que apesar disso já estão sobrecarregados por vários tipos de contribuições exigidas. Ou será que o CMCM realmente quis colocar no desemprego milhares de moradores, a maioria dos quais oriundos dos bairros periféricos, que já batalham pela sobrevivência diária nas ruas do cidade de cimento; assim transformando pequenos negociantes em mendingos ou até forçando pessoas ao crime em vez de negócio e trabalho honesto. Aínda bem que este pesadelo contra a sociedade, desenhado nos gabinetes de Simango não se realizou. Agora amigos de Moçambique podem suspirar de alívio, que a guerra contra a população menos favorecida acabou, pelo menos por enquanto.

terça-feira, 20 de março de 2012

Gaiola dourada separa o povo e os mulungos

Falei, há um tempo, com um funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros finlandês, que lamentava o quanto é limitada a sua movimentação aqui em Moçambique. Para eles, não é permitido um acesso completo a informações das condições do país, mas ficam só na sua gaiola dourada, nas circunstâncias confortáveis de Polana Cemento.

Mas do que realmente é construída essa gaiola dourada? Moçambique, pelo menos, em princípio, é um país livre e seguro em grande parte. E, por isso mesmo, eu, um pesquisador livre, não tenho tido maiores dificuldades em conhecer Maputo, inclusive a vida periférica suburbana. Já me familiarizei com Mahubo, que fica atrás do Boane, que é feito famoso pelo Henning Mankell, e com seus moradores que servem a bebida kanju de cabaças cortadas. Conhecimento mais aprofundado, obviamente, exige tempo e paciência, entre outras coisas, como músculos nas pernas! Então eu não vejo uma gaiola dourada, mas, conforme dito por um colega antropólogo, um "mundo de Mundos", no qual, seguindo o nome de um restaurante local, os estrangeiros de Maputo e trabalhadores moçambicanos de ONGs, bem como a elite, encontram-se sem perceber o povo na rua, senão como uma distração que atrapalha a recuperação do trabalho. Neste mundo com bebidas chamadas “orgasmo” e terças-feiras de pizza, há seu lado convencedor, e muitos nem querem sair dali.

A gaiola de ouro, sem dúvida, existe como algum tipo de estrutura, mas nada tão concreto como, por exemplo, as proibições extensas de viagens na antiga União Soviética. Não tem ninguém que realmente forçasse alguém a ficar nos mundos fechados da Polana ou Sommerschield. No entanto, mesmo os estrangeiros que estão interessados em explorar mais profundamente a realidade social de Moçambique, sentem-na muitas vezes quase impossível. Gostaria de pedir aos meus compatriotas que aqui vivem e, em geral, a todos que reconhecem a gaiola dourada, o que é a sua opinião sobre as características dessa gaiola? Podemos, portanto, fazer um esforço para resolver o problema da gaiola, que é prejudicial não apenas aos estrangeiros, mas também para os moçambicanos comuns, que ficam desconhecidos no outro lado da gaiola – vistos como números nas estatísticas, fatores imprevisíveis no planejamento de negócios ou como meros objetos de medidas.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Meus dias típicos no Maputo

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Caro leitor,

Vida productiva e recriativa no nosso bairro
Fiquei sabendo que, lá na minha terra natal, a temperatura desceu aos graus temíveis até abaixo de -35; você como tem lidado? Dizem que faz um frio também em Portugal, mas no resto do mundo lusófono, não passamos frio não. Aqui em Maputo já sentimos o calor de +37. Agora, para variar, vou contar sobre o que é mesmo que eu estou fazendo aqui em Moçambique!
...Quer dizer, além de passear a bater papo à toa com a galera por aí – o que já devem ter percebido das minhas cartas...
O caminho para a mais próxima parada de chapas, no fundo o Oceano Índico.
Bom, as semanas se passam no cotidiano. De manhã acordo meio cedo, despertado pelo calor, a luz, e o barulho dia-a-dia da vizinhança. Eu como alguma coisa, tomo um café e sempre tomo um banho. Aínda a pressão de água na minha casa não é suficiente para a duche, então é com balde mesmo.

Momentos de leitura
Muitas vezes eu só tomo uma água em casa e no caminho compro um pãozinho e badias, tipos de pastel de feijão. Ou então eu vou de chapa, o mini-autocarro local, até a Avenida Eduardo Mundlane, em vez do campus universitário, para comprar o jornal ”O País” na frente dum café, junto às revistas semanais mais críticas, ”Zambeze” e ”Savana”, pelo menos quando estão disponíveis no final da semana. Nas outras revistas semanais independentes, como ”Canal de Moçambique”, ”Público” e ”Magazine Independent”, eu já dou uma lida dentro do café, acompanhado por um café com leite, uma torrada e um caderno de notas. O jornal ”Notícias” eu customo ler na biblioteca do departamento, pois como o jornal mais financiado do país, que está em favor do partido em poder, parece que é distribuido a todas as instituiçoẽs públicas.
Mais atividades productivas às 7 de manhã
Eu sou um destes antropólogos, que veêm o acompanhamento da imprensa local como uma parte essencial do trabalho do campo. Apesar que, as revistas independentes do Moçambique tem edições a menos de 10 000 cópias, abrem janelas à paisagem dos pensamentos da nação e à discussão pública. Um artigo publicado pode atingir atenção rápido, quando preciso, embora que nem a metade oficialmente dito da população soubesse ler. Si eu não lesse jornais e revistas e conversasse sobre os temas neles relatadas com os meus vizinhos, eu não tinha como entender os títulos bem críticos como ”Pato na forja” ou ”Abutres querem matar Cardoso pela segunda vez”. Portanto, já chega de leitura.
Os chapas, que me levam até ao campus universitário, ficam incompreensívelmente lotados. Eu já tinha que me acostumar com a proximidade que, tem um lado simpático, mas lamento ser resultado da grave carência no equipamento de transportação pública que, nos últimos anos, sempre piorou. Muitas vezes me encostando o peso num pé só, no colega transeunte ao lado ou no colo dele, segurando a mão na parede ou no teto, eu finalmente chego no campus, onde pego o caminho ao meu escritório no Centro dos Estudos Africanos por entre as trabalhadoras rurais cultivando seus terrenos.

As letras do Azagaia despertam discussão pública

Foto: http://fobloga.blogspot.com
Um bom dia para o porteiro e à secretaria, e vou trabalhar. Últimamente tenho usado o meu tempo com a Introdução do meu tese de pós-graduação de Ph.L., que no sistema européu atual precede o doutorado, e com a tradução inglesa do nosso artigo sobre o rapista moçambicano Azagaia; com um outro artigo referido; com o lançamento deste blog e com os requerimentos de financiamento. O meu trabalho principal aqui em Maputo é estudar a língua de (ki)mwani, falada no norte do país, com a instrução do lingűista Assumane Abudo, para o meu trabalho de campo em Cabo Delgado previsto para começar em Abril. Por cima, tenho estudado monografias, que na Finlândia não se encontra, lá só na Instituição de Estudos Africanos de Uppsala, em Suécia.
Crianças de Polana Caniço no seu caminho escolar
 
Rico e pobre
No final da tarde, os chapas estão lotados, então muitas vezes prefiro ir à pé, caso vou para casa. A minha trilha vai para atrás de um bairro de elite, o cercado Sommerchild, e um bairro de baixa renda, Polana Caniço, para até o nosso bairro, populado tanto pelos jovens de classe média, quanto de pequenos negociantes e pescadores tradicionais, à beira do Oceano Ìndico.
À noite durante a semana, vou treinar capoeira, ou leio revistas e jornais, ou tomo alguma cerveja com os meus vizinhos em alguma das várias barracas do bairro. É mais gostoso sentar ao ar livre antes de deitar, pois faz um calor dentro da casa, enquanto as ruas de areia do nosso bairro refrescam-se por uma brisa do mar. Aos sábados de manhã, vamos jogar futebol abaixo da radiação solar quase sufocante, ou as vezes jogamos no domingo ao final da tarde na praia exposta pela maré. Pelo menos aos domingos à noite vou dançar à música ao vivo.
Apesar de não me ligar muito com a política, parece que tanto fica meu pensamento na esquerda da maneira finlandesa que, nunca me deu necessidade de ter uma empregada, ao contrário de muitos meus colegas e quase todos os europeus aqui. Sou eu quem cozinha para mim, eu lavo a minha louça e a minha roupa com o sabão local de ótima qualidade. Claro que as vezes vou comer nos cafés e restaurantes, e de semana almoço na faculdade.

Assim que são as minhas notícias principais. Eu por mim vou bem. Eu, e meus 200 milhões de leitores possíveis, também gostariamos de saber as suas notícias, ou seus comentários!

Saudações cordiais,

Janne

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Um presidente homossexual e um antigo combatente discriminado


Agora, que os finlandeses estão à frente da escolha do seu futuro presidente nacional, que poderá ser um tipo de diplomata internacional do Partido Verde, que vive num casamento homossexual, ou um tipo conservador de direita, que nas últimas eleições, proclamou-se um presidente trabalhador, está bem na hora de relatar a procissão dos automóveis do Presidente moçambicano no centro do Maputo, em dezembro passado.
(Lamento a falta da fotografia, resulta das regras moçambicanas sobre fotografia pública.)

Cedo de manhã, todos esperando seu turno no banco automático na Avenida Júlio Nyerere, começaram a tocar sinos de alarme. O povo virou para olhar a rua que, de repente se encheu de vários policiais de trânsito, esvaziada de carros. Após o alarme, apareceu um bando de polícias à motocicleta, escoltado por veículos de tropa, atrás deles, alguns carros pretos blindados. Por final, vinham alguns carretas cheias de soldados, metralhadoras na mão, acompanhados por uma ambulância para casos de emergência. A velocidade dessa procissão estava bem rápida, pois supostamente na rota o trânsito foi parado por vários quilómetros.

Primeiro pensei eu, que fosse algum caso excepcional, mas depois fiquei sabendo que o Presidente sempre é transportado numa procissão igual. Aparentemente tratava-se da sua caminhada diária desde o palácio de morada até a sua casa de cargo presidencial. Depois da passada, todos, inclusive os policiais, soltavam risadas. Será porque os moçambicanos são todos uma grande família, como dito por um colega na faculdade? Ou havia diversas razões por trás dessas risadas aparentemente iguais?

Os procedimentos de segurança da Presidente em ofício na Finlândia são de outro mundo. Os moçambicanos mal conseguem confiar nos seus ouvidos, quando eu conto, que se pode encontrar a nossa presidente por ocasião numa piscina de academia, numa livraria, em festivais, ou até numa aula de dança-do-ventre no bairro de Kallio em Helsinki, a capital do país. Os seguranças só se reconhece pela postura firme e pelos olhares explorando todos os transeuntes. Quem não reconheçesse a presidente, podia tomá-la e seus seguranças por cidadãos quaisquer.

Então, em que são fundados estes procedimentos de segurança em Moçambique, um país bastante calmo e seguro? O meu voto é que se trata de um tipo de desempenho de poder. O povo vê, que o seu Presidente não tem tempo de esperar no sinal fechado por tanto trabalhar para o bem da nação. Assim guarnece-se a narrativa de um país independente, liderado pelos antigos combatentes que, aínda na década de 1970-, foram discriminados pela cor da sua pele. De qualquer maneira, em Helsinki, não iremos ver uma organização de segurança parecida, seja o nosso futuro presidente, o meu candidato, o homossexual do Partido Verde que nos seus cargos em África do Norte já se acustomou com tudo isso, ou o outro, candidato heterossexual do partido conservador nacional.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

As tempestades continuam danificando a parte central do Moçambique

(Complemento para a carta anterior)
(24/01) É a minha responsalibidade anunciar aos meus leitores que, apesar de Maputo já ter passado pela depressão, os danos da tempestade, transformada em ciclone sob o nome de Funso, continuam nas províncias de Zambezia, Inhambane e Quelimane. Não consigui encontrar um resumo completo, entretanto, nos jornais "Notícias" e "O País" foi relatado hoje que, em Zambezia, houve mais 11 perdas de vida, além de outros cinco já falecidas. Em cima disso, dezenas de pessoas foram feridas e centenas senão milhares casas foram levadas pelas enchentes. A cerca de cem quilômetros ao norte do Maputo, a estrada principal do país está danificada. Conforme as autoridades, demorará mais alguns dias para reabri-la.
Os irmãos mas novos no negócio 25/1.

P.S. Há uns quinze minutos da minha casa, rapazes desempregados empreenderam um negócio de alugar de botas de borracha para atravessar u buraco de água com mais ou menos 30 cm de profundidade e 200 m de extensão. Eu mesmo tive de alugar botas quando andei do campus universitário para casa na sexta-feira passada. Do ponto de vista da economia de mercado, eis uma iniciativa bem saudável, porém, meu vizinho lamentou que os jovens desta maneira se aproveitem da situação. Será esse um conflito entre duas maneiras de pensar a economia?

P.P.S. Quantos serão os leitores finlandêses que já ouviram falar sobre as dificuldades temporais em Moçambique, que já se prolongam há mais de uma semana? Após uma rápida busca na internet, assumo que são pouquíssimos. É mais um exemplo da antirreciprocidade da ignorância. Com isso, quero dizer que os moradores dos chamados países ocidentais podem estar bem menos conscientes dos acontecimentos, digamos, na África, do que os africanos dos eventos no Ocidente. Para ilustrar: em primeira mão eu fiquei sabendo sobre a tempestade na Finlândia do dia 26/12, graças à mensagem enviada por um amigo moçambicano.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Chuva continua!

(17/01/2012)
Aqui no bairro só tínhamos problemas com a luz
.
Depressão tropical Dando bateu com força primeiro em Madagascar, daí ontém no sul de Moçambique, onde fica também o capital Maputo. Uma descrição imparcial para quem sabe português encontra-se aqui. O primeiro tiragosto da tempestade tinhamos no meu bairro na noite entre domingo e segunda, quando um vento forte, com rajadas por 25 m/s, apagou a luz por uma jornada e hoje de manhã de novo. No campo académico tinha luz, porém a conexão à internet falia. É difícil estimar a amplidão destas interrupções do fornecimento de electricidade. Não me incomodava, se eu não tivesse adquirido, com a ajuda da senhoria da casa, uns 800 gramas de carne. Agora outros tém problemas bém mais graves.

A chuva e o vento fortes abstendo-me do uso da palavra tempestade conforme a mídia local atrapalham a infra-estrutura. Os miniautocarros, chapas, mal andam. Alimentos ficam estragados. As ruas enchem-se de água, e o capital da provincia vizinha, Xai-Xai, está inteiramente sem água e luz. Eu fui salvo para o meu escritório seco por um engenheiro desconhecido com seu todo-o-terreno, que me encontrou esperando o chapa embaixo da protecção péssima de guarda-chuva. Foi simples boa sorte, ou uma manifestação bem provável da hospitalidade moçambicana? Quase nem consigo imaginar as dificuldades que passam num tempo destes as empregadas, vendores da rua e outros trabalhadores que tem uma ou duas horas de viagem de várias chapas para vir trabalhar na cidade. Para eles, e para o engenheiro que nem conheci, levanto o chapéu, e mando abraços daqui desde a chuva para a minha mãe lá na minha terra.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Camarão fresquinho e bacalhau seco

Parábolas culinárias
(Primeira parte)

Hoje (dia 2 do Janeiro) eu me encontro na favela, como chama-se pelos
inhabitantes, para tomar uma cerveja informal - em boa companhia, é claro. Disseram-me que eu ainda continuo um camarão fresquinho. Daqui há um tempo, eu, igual aos outros brancos que chegaram a Moçambique, me transformarei em um bacalhau seco. Nada glorioso! Voltarei ao assunto quando perceber mais.