Suomeksi täältä
A inspiração para nomear este blog foi evocada pela metáfora de Benedict Anderson, as nações manifestam-se ao sonhar, e pelo romance do autor moçambicano Mia Couto, a “Terra Sonâmbula”. O sonho desta terra sonâmbula ainda continua às vezes mais agitado, nos debates, nas discussões, nas cerimonias, nas ruas, nas canções, portanto, incessante...

terça-feira, 20 de março de 2012

Gaiola dourada separa o povo e os mulungos

Falei, há um tempo, com um funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros finlandês, que lamentava o quanto é limitada a sua movimentação aqui em Moçambique. Para eles, não é permitido um acesso completo a informações das condições do país, mas ficam só na sua gaiola dourada, nas circunstâncias confortáveis de Polana Cemento.

Mas do que realmente é construída essa gaiola dourada? Moçambique, pelo menos, em princípio, é um país livre e seguro em grande parte. E, por isso mesmo, eu, um pesquisador livre, não tenho tido maiores dificuldades em conhecer Maputo, inclusive a vida periférica suburbana. Já me familiarizei com Mahubo, que fica atrás do Boane, que é feito famoso pelo Henning Mankell, e com seus moradores que servem a bebida kanju de cabaças cortadas. Conhecimento mais aprofundado, obviamente, exige tempo e paciência, entre outras coisas, como músculos nas pernas! Então eu não vejo uma gaiola dourada, mas, conforme dito por um colega antropólogo, um "mundo de Mundos", no qual, seguindo o nome de um restaurante local, os estrangeiros de Maputo e trabalhadores moçambicanos de ONGs, bem como a elite, encontram-se sem perceber o povo na rua, senão como uma distração que atrapalha a recuperação do trabalho. Neste mundo com bebidas chamadas “orgasmo” e terças-feiras de pizza, há seu lado convencedor, e muitos nem querem sair dali.

A gaiola de ouro, sem dúvida, existe como algum tipo de estrutura, mas nada tão concreto como, por exemplo, as proibições extensas de viagens na antiga União Soviética. Não tem ninguém que realmente forçasse alguém a ficar nos mundos fechados da Polana ou Sommerschield. No entanto, mesmo os estrangeiros que estão interessados em explorar mais profundamente a realidade social de Moçambique, sentem-na muitas vezes quase impossível. Gostaria de pedir aos meus compatriotas que aqui vivem e, em geral, a todos que reconhecem a gaiola dourada, o que é a sua opinião sobre as características dessa gaiola? Podemos, portanto, fazer um esforço para resolver o problema da gaiola, que é prejudicial não apenas aos estrangeiros, mas também para os moçambicanos comuns, que ficam desconhecidos no outro lado da gaiola – vistos como números nas estatísticas, fatores imprevisíveis no planejamento de negócios ou como meros objetos de medidas.