Suomeksi täältä
A inspiração para nomear este blog foi evocada pela metáfora de Benedict Anderson, as nações manifestam-se ao sonhar, e pelo romance do autor moçambicano Mia Couto, a “Terra Sonâmbula”. O sonho desta terra sonâmbula ainda continua às vezes mais agitado, nos debates, nas discussões, nas cerimonias, nas ruas, nas canções, portanto, incessante...

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Meus dias típicos no Maputo

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Caro leitor,

Vida productiva e recriativa no nosso bairro
Fiquei sabendo que, lá na minha terra natal, a temperatura desceu aos graus temíveis até abaixo de -35; você como tem lidado? Dizem que faz um frio também em Portugal, mas no resto do mundo lusófono, não passamos frio não. Aqui em Maputo já sentimos o calor de +37. Agora, para variar, vou contar sobre o que é mesmo que eu estou fazendo aqui em Moçambique!
...Quer dizer, além de passear a bater papo à toa com a galera por aí – o que já devem ter percebido das minhas cartas...
O caminho para a mais próxima parada de chapas, no fundo o Oceano Índico.
Bom, as semanas se passam no cotidiano. De manhã acordo meio cedo, despertado pelo calor, a luz, e o barulho dia-a-dia da vizinhança. Eu como alguma coisa, tomo um café e sempre tomo um banho. Aínda a pressão de água na minha casa não é suficiente para a duche, então é com balde mesmo.

Momentos de leitura
Muitas vezes eu só tomo uma água em casa e no caminho compro um pãozinho e badias, tipos de pastel de feijão. Ou então eu vou de chapa, o mini-autocarro local, até a Avenida Eduardo Mundlane, em vez do campus universitário, para comprar o jornal ”O País” na frente dum café, junto às revistas semanais mais críticas, ”Zambeze” e ”Savana”, pelo menos quando estão disponíveis no final da semana. Nas outras revistas semanais independentes, como ”Canal de Moçambique”, ”Público” e ”Magazine Independent”, eu já dou uma lida dentro do café, acompanhado por um café com leite, uma torrada e um caderno de notas. O jornal ”Notícias” eu customo ler na biblioteca do departamento, pois como o jornal mais financiado do país, que está em favor do partido em poder, parece que é distribuido a todas as instituiçoẽs públicas.
Mais atividades productivas às 7 de manhã
Eu sou um destes antropólogos, que veêm o acompanhamento da imprensa local como uma parte essencial do trabalho do campo. Apesar que, as revistas independentes do Moçambique tem edições a menos de 10 000 cópias, abrem janelas à paisagem dos pensamentos da nação e à discussão pública. Um artigo publicado pode atingir atenção rápido, quando preciso, embora que nem a metade oficialmente dito da população soubesse ler. Si eu não lesse jornais e revistas e conversasse sobre os temas neles relatadas com os meus vizinhos, eu não tinha como entender os títulos bem críticos como ”Pato na forja” ou ”Abutres querem matar Cardoso pela segunda vez”. Portanto, já chega de leitura.
Os chapas, que me levam até ao campus universitário, ficam incompreensívelmente lotados. Eu já tinha que me acostumar com a proximidade que, tem um lado simpático, mas lamento ser resultado da grave carência no equipamento de transportação pública que, nos últimos anos, sempre piorou. Muitas vezes me encostando o peso num pé só, no colega transeunte ao lado ou no colo dele, segurando a mão na parede ou no teto, eu finalmente chego no campus, onde pego o caminho ao meu escritório no Centro dos Estudos Africanos por entre as trabalhadoras rurais cultivando seus terrenos.

As letras do Azagaia despertam discussão pública

Foto: http://fobloga.blogspot.com
Um bom dia para o porteiro e à secretaria, e vou trabalhar. Últimamente tenho usado o meu tempo com a Introdução do meu tese de pós-graduação de Ph.L., que no sistema européu atual precede o doutorado, e com a tradução inglesa do nosso artigo sobre o rapista moçambicano Azagaia; com um outro artigo referido; com o lançamento deste blog e com os requerimentos de financiamento. O meu trabalho principal aqui em Maputo é estudar a língua de (ki)mwani, falada no norte do país, com a instrução do lingűista Assumane Abudo, para o meu trabalho de campo em Cabo Delgado previsto para começar em Abril. Por cima, tenho estudado monografias, que na Finlândia não se encontra, lá só na Instituição de Estudos Africanos de Uppsala, em Suécia.
Crianças de Polana Caniço no seu caminho escolar
 
Rico e pobre
No final da tarde, os chapas estão lotados, então muitas vezes prefiro ir à pé, caso vou para casa. A minha trilha vai para atrás de um bairro de elite, o cercado Sommerchild, e um bairro de baixa renda, Polana Caniço, para até o nosso bairro, populado tanto pelos jovens de classe média, quanto de pequenos negociantes e pescadores tradicionais, à beira do Oceano Ìndico.
À noite durante a semana, vou treinar capoeira, ou leio revistas e jornais, ou tomo alguma cerveja com os meus vizinhos em alguma das várias barracas do bairro. É mais gostoso sentar ao ar livre antes de deitar, pois faz um calor dentro da casa, enquanto as ruas de areia do nosso bairro refrescam-se por uma brisa do mar. Aos sábados de manhã, vamos jogar futebol abaixo da radiação solar quase sufocante, ou as vezes jogamos no domingo ao final da tarde na praia exposta pela maré. Pelo menos aos domingos à noite vou dançar à música ao vivo.
Apesar de não me ligar muito com a política, parece que tanto fica meu pensamento na esquerda da maneira finlandesa que, nunca me deu necessidade de ter uma empregada, ao contrário de muitos meus colegas e quase todos os europeus aqui. Sou eu quem cozinha para mim, eu lavo a minha louça e a minha roupa com o sabão local de ótima qualidade. Claro que as vezes vou comer nos cafés e restaurantes, e de semana almoço na faculdade.

Assim que são as minhas notícias principais. Eu por mim vou bem. Eu, e meus 200 milhões de leitores possíveis, também gostariamos de saber as suas notícias, ou seus comentários!

Saudações cordiais,

Janne

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Um presidente homossexual e um antigo combatente discriminado


Agora, que os finlandeses estão à frente da escolha do seu futuro presidente nacional, que poderá ser um tipo de diplomata internacional do Partido Verde, que vive num casamento homossexual, ou um tipo conservador de direita, que nas últimas eleições, proclamou-se um presidente trabalhador, está bem na hora de relatar a procissão dos automóveis do Presidente moçambicano no centro do Maputo, em dezembro passado.
(Lamento a falta da fotografia, resulta das regras moçambicanas sobre fotografia pública.)

Cedo de manhã, todos esperando seu turno no banco automático na Avenida Júlio Nyerere, começaram a tocar sinos de alarme. O povo virou para olhar a rua que, de repente se encheu de vários policiais de trânsito, esvaziada de carros. Após o alarme, apareceu um bando de polícias à motocicleta, escoltado por veículos de tropa, atrás deles, alguns carros pretos blindados. Por final, vinham alguns carretas cheias de soldados, metralhadoras na mão, acompanhados por uma ambulância para casos de emergência. A velocidade dessa procissão estava bem rápida, pois supostamente na rota o trânsito foi parado por vários quilómetros.

Primeiro pensei eu, que fosse algum caso excepcional, mas depois fiquei sabendo que o Presidente sempre é transportado numa procissão igual. Aparentemente tratava-se da sua caminhada diária desde o palácio de morada até a sua casa de cargo presidencial. Depois da passada, todos, inclusive os policiais, soltavam risadas. Será porque os moçambicanos são todos uma grande família, como dito por um colega na faculdade? Ou havia diversas razões por trás dessas risadas aparentemente iguais?

Os procedimentos de segurança da Presidente em ofício na Finlândia são de outro mundo. Os moçambicanos mal conseguem confiar nos seus ouvidos, quando eu conto, que se pode encontrar a nossa presidente por ocasião numa piscina de academia, numa livraria, em festivais, ou até numa aula de dança-do-ventre no bairro de Kallio em Helsinki, a capital do país. Os seguranças só se reconhece pela postura firme e pelos olhares explorando todos os transeuntes. Quem não reconheçesse a presidente, podia tomá-la e seus seguranças por cidadãos quaisquer.

Então, em que são fundados estes procedimentos de segurança em Moçambique, um país bastante calmo e seguro? O meu voto é que se trata de um tipo de desempenho de poder. O povo vê, que o seu Presidente não tem tempo de esperar no sinal fechado por tanto trabalhar para o bem da nação. Assim guarnece-se a narrativa de um país independente, liderado pelos antigos combatentes que, aínda na década de 1970-, foram discriminados pela cor da sua pele. De qualquer maneira, em Helsinki, não iremos ver uma organização de segurança parecida, seja o nosso futuro presidente, o meu candidato, o homossexual do Partido Verde que nos seus cargos em África do Norte já se acustomou com tudo isso, ou o outro, candidato heterossexual do partido conservador nacional.